Com tais resultados, o mercado financeiro puniu a empresa no pregão de ontem, com retração nos valores dos seus papéis chegando a quase 9%, para finalizar com uma perda de 3,95% - um número até modesto frente à magnitude do prejuízo, sobretudo quando comparado com os R$ 436 milhões de lucro apresentados em 2010.
Esse processo de ajuste que a GAFISA vem fazendo desde 2011 já era algo esperado, como mostrou, inclusive, a reportagem da Revista Exame sobre o setor. O fato é que com os processos de abertura de capital as incorporadoras brasileiras entraram em um ritmo de crescimento acelerado - incompatível com a realidade do mercado. O ajuste está sendo feito agora, com as empresas optando por uma estratégia de retorno à rentabilidade em troca de um crescimento menor, ou até mesmo retração.
Para o mercado financeiro, porém, que valoriza os papéis com base em possibilidade de pagamento de dividendos ou perspectiva de valorização futura, os ajustes são péssimas notícias, motivo pelo qual as ações caem de valor.
Apesar dos prejuízo e da queda de seu valor de mercado na Bolsa de Valores, a GAFISA não tem o menor risco de falência, como evidencia seu imponente caixa da ordem de R$ 900 milhões de reais em março de 2012, o qual, mesmo retraindo-se de R$ 1,2 bilhão ao final de 2010, ainda é grande o suficiente para uma empresa que apresentou um consumo de caixa de R$ 200,2 milhões de reais em 2010.
Além disso, a empresa tem um estoque de terrenos que embutem um potencial de lançamentos de R$ 21,8 bilhões de reais. Em 2012 a empresa já lançou R$ 400 milhões, e a expectativa de geração de caixa para 2012 fica entre R$ 500 e R$ 700 milhões.
Ainda na conferência para os investidores, o presidente da GAFISA, Duilio Calciolari, informou que a empresa está reavaliando uma série de lançamentos futuros, e que, nas áreas em que se considerar inadequadas, os terrenos serão vendidos, contribuindo para a geração de caixa.
Mercado Imobiliário
Uma questão que se coloca para o investidor ou mesmo para pessoas que pretendem adquirir imóveis é se o resultado negativo da GAFISA é um indicador da situação do mercado imobiliário como um todo. A respeito disso, o economista Ricardo Amorim, em entrevista, apontou que o mercado imobiliário brasileiro, depois de passar por um grande período praticamente estagnado, vem crescendo desde 2005, com algumas empresas apresentado crescimento de até 45% ao ano.
Segundo ele, é provável que nos próximos anos que o investimento imobiliário continue como uma das melhores opções, mesmo que provavelmente venha a apresentar uma rentabilidade menor do que o observado até aqui.
Crise europeia afeta o setor imobiliário?
Outra questão coloca é se a crise nos países europeus pode afetar o Brasil em geral e o setor imobiliário em particular. Com relação a isso, Amorim aponta que é provável um recrudescimento da crise na Europa, e que isso trará impactos para o Brasil, menores e menos duradouros, porém, que os observados em 2008.
No caso do mercado imobiliário, entretanto, observou-se que ele se bebneficiou da crise de 2008, tendo em vista que as pessoas saíram dos ativos financeiros e procuraram investimentos mais seguros, como os imóveis, o que ajudou no processo de valorização. Nesse sentido, um agravamento da crise na Europa não deverá prejudicar o setor imobiliário brasileiro.
Bolha Imobiliária?
Outro assunto que sempre vem à tona é sobre a possibilidade de o Brasil estar vivendo uma Bolha Imobiliária. Um estudo recente de Amorim sobre todas as crises imobiliárias que ocorreram desde o começo do século XX, mostra que as bolhas imobiliárias estouram em um cenário de grande atividade no setor.
Apesar de o Brasil aparentemente estar vivendo uma grande atividade no setor imobiliário, o fato é que, na comparação com os países que tiveram estouros de bolhas, a atividade ainda é pequena, como mostra o indicador de consumo de cimento per capita.
Enquanto no Brasil o consumo de cimento per capita está em 160 kg/ano, em todos os países que tiveram estouro de bolha imobiliária esse consumo esteve acima de 600 Kg/ano. No caso da China, por exemplo, o consumo está atualmente em 1.600 Kg / ano, sem que haja ainda sinais concretos de estouro de bolha imobiliária no gigante asiático.
Sendo assim, para que o Brasil venha a apresentar riscos de desenvolver uma bolha em seu setor imobiliário, será necessário ainda uma grande aceleração do setor, antes de que esse risco se torne efetivamente algo a ser considerado. Ou seja, está descartada a formação de uma bolha imobiliária no Brasil nos próximos anos.
Outro ponto que sepulta de forma veemente a hipótese de bolha é o crédito imobiliário. Enquanto que em todos os países que apresentaram estouro de bolha imobiliária a relação crédito imobiliário / PIB era superior a 55%, com casos, como a Suíça, que esse indicador chegou a 110%, no Brasil esse indicador é de apenas 4%.
Isso mostra que apenas um colapso no sistema de crédito - como o que ocorreu na crise americana de 2008 - pode levar a um estouro de bolha imobiliária. No caso do Brasil, há ainda muito espaço para expansão do crédito imobiliário, o que torna a hipótese de bolha imobiliária ainda mais improvável.
Conclusão
Os resultados negativos da GAFISA mostram um amadurecimento do setor imobiliário brasileiro, onde empresas passam por ajustes para manter sua rentabilidade. No que respeita o mercado imobiliário, porém, os indicadores não apontam qualquer sinal de bolha imobiliária, e o setor deve continuar a crescer nos próximos anos, ainda que em ritmo menor do que o observado entre 2005 e 2010.
Apesar de a bolha imobiliária, aparentemente, não ter estourado na China, há relatos de prédio e mais prédios residenciais 'fantasmas'. Prontos e abandonados, sem compradores ou moradores. isso não é sinal de que há algo errado? Levando em conta que a economia chinesa não é exatamente aberta, e os dados ficam dentro de caixas pretas, não poderia a china já ter estourado sua bolha, que continua sendo sustentada com a impressora de dinheiro, pra disfarçar?
ResponderExcluirE mais, levar em conta o consumo de cimento não pode ser capcioso? Quero dizer, se um país está construindo portos, estradas, hidrelétricas, etc, poderá ter um consumo de cimento elevado sem estar construindo uma única unidade habitacional sequer. Nesse consumo de cimento da China é considerado apenas as obras residenciais?
Olá, "capicioso" é afirmar que há uma bolha de preços no mercado brasileiro sem nenhum argumento para sustentar.
ExcluirÉ claro que o consumo de cimento na China envolve tudo.
Mas o que interessa mesmo é que o dado de consumo no Brasil indica uma atividade de construção civil ainda muito baixa, e muito abaixo do nível mínimo que ocorreram TODOS os estouros de bolhas imobiliárias no mundo.