O jornalista Alon Feuerwerker, militante do PCdoB, oriundo da UNE, mantém um blog na Internet, no qual expõe suas opiniões, sobre política em geral, e governismo em particular. Apesar de já ser bem grandinho, Alon Feuerwerker ainda vive o sonho do socialismo, fruto de seu total desconhecimento do funcionamento de uma economia de mercado. Vamos mostrar para o jornalista-comunista como ele está errado em seu artigo "A histeria midiática contra Chavez". Abaixo, em azul, Alon, em preto, nossas considerações.
"Um certo pseudomarxismo rastaqüera associa mecanicamente mercado e liberdade econômica a capitalismo. Por oposição, o socialismo seria, então, o reino do Estado (antagonista do mercado) e da relativização da liberdade individual.”
Não é pseudo-marxismo que faz essa associação. É o marxismo mesmo, ao defender o fim da propriedade privada dos meios de produção, e sua apropriação pelo Estado no processo revolucionário, como se isso resolvesse algum problema.
"Do meu modesto ângulo de visão, esse debate precisa ser urgentemente rearrumado. Já se sabe (sempre se soube, desde Marx) que absorver a sociedade no Estado não soluciona estruturalmente o desafio de levar o homem (e a mulher) a uma situação perene de bem-estar. Então — oh, fatalismo! — só nos restaria adorar a divindade do capital. E esperar, rezando, que ela nos leve ao paraíso. Fique à vontade, se esse for o seu caso. Mas eu prefiro raciocinar, em vez de bater palmas ou de vaiar."
A solução para o bem-estar humano tem a ver com educação, saúde, investimentos em tecnologia, liberdade de mercado, democracia.
"Dizer que capitalismo e mercado são sinônimos é uma falsificação histórica. Grosseira. O mercado existe desde o dia em que o homem percebeu que produzia mais do que precisava para consumir e, num passo lógico, achou que seria boa idéia trocar o seu excedente com quem fazia coisas de que ele precisava mas não produzia.”
Ninguém diz que capitalismo e mercado são sinônimos, mas capitalismo é sinônimo de economia de mercado. Economia de mercado é uma economia na qual a alocação de recursos e a definição do que, quanto e como produzir é feita por meio dos mercados consumidores. Se os consumidores desejam aumento de produção de um determinado bem, a demanda aumentará, e o preço subirá, que sinalizará os produtores para aumentar a produção desse bem. No momento subsequente, com o aumento da oferta, o preço volta a cair. Isso é mercado. É por esse motivo que é melhor, ao invés de você ter uma telefônica estatal, você tem uma telefônica submetida aos mercados.
“Não me venha dizer que o capitalismo é o reinado da liberdade econômica."
Eu venho: é o reinado da liberdade econômica. Ocorre que mesmo a sua liberdade econômica é limitada pela liberdade econômica do próximo. Isso vai ficar mais claro para você no próximo comentário.
"Acho que nem você acredita nisso. Eu, por exemplo, fiquei revoltado diante do descaso da TAM com os seus passageiros no fim do ano passado. Aí decidi tomar uma atitude firme. Decidi abrir uma nova companhia aérea para atrair todo o excedente da demanda. Só que apareceu um problema: e o capital? Cadê o capital disponível no mercado para que eu exerça a minha liberdade econômica e contribua para satisfazer a necessidade do sujeito que comprou um bilhete da TAM e espera há horas para embarcar? Sacou?”
A coisa não funciona assim, caro articulista. Existem recursos disponíveis no mercado para bons projetos. Porém tais recursos tem proprietários, e têm proprietários porque tais pessoas, em determinados momentos de suas vidas, renunciaram a consumo para alocar uma parte de seus recursos a investimentos e poupança, e se tornaram proprietários de tais recursos.
A liberdade que você tem de usar tais recursos é limitada pela liberdade dos proprietários dos recursos de avaliar se tais recursos serão ou não bem utilizados por você, e essa avaliação será feita em termos bem prosaicos, como se você nunca teve uma empresa de aviação ou mesmo de transporte, que garantia você inspira que sua empresa será boa para a sociedade? Que será lucrativa, e que você não desperdiçará os recursos alheios, entendeu?
O dono da Gol, por exemplo, conseguiu milhões de dólares no mercado para fundar sua empresa, depois ele ainda abriu o capital na Bolsa de valores e conseguiu mais recursos ainda, mas ele já mostrou que é bom com empresas de transporte. Você pode fazer o mesmo caminho dele.
"Vamos a outro exemplo. O chefe chama o subordinado e diz que ele será demitido. – Infelizmente, tomamos essa decisão porque a empresa está com dificuldades operacionais e vai fazer um downsizing.
– Mas, por que me demitir? Eu acho que o problema da empresa não sou eu. É a gestão ineficiente. Não estamos conseguindo inovar e incrementar a produtividade no mesmo ritmo que a concorrência.
Em vez de cortar na operação, o certo seria eliminar atividades-meio, enxugar níveis desnecessários de gerência e pensar estrategicamente sobre o que devemos fazer agora para sobreviver e crescer nos próximos vinte anos. E quer saber de uma coisa? Se você não compreende isso, está na cara que eu sou mais útil à empresa do que você. Portanto, vamos esquecer dessa sua proposta. E licença que eu vou voltar agora para o meu computador, pois tenho muita coisa para fazer.
Vejam de que maneira altiva esse trabalhador exercitou a sua liberdade, o seu livre arbítrio no capitalismo. Mas é improvável que ele tenha êxito na argumentação. Mais certo é que ele seja mandado embora assim mesmo. E que ainda deixe para trás uma certa imagem de, digamos, exotismo.”
Você confunde tudo, Alon. O dono da empresa tem a liberdade de contratar e demitir quem ele bem entende. O dono da empresa é responsável pelo sucesso da empresa, e tal resultado é decorrente das decisões que ele toma.
A liberdade do empregado é limitada pela liberdade do empregador de não ser obrigado a mantê-lo empregado quando achar que esse empregado não é mais necessário, ou não é conveniente. Da mesma forma, por mais que o empregador queira, ele não pode obrigar o empregado a manter-se empregado na empresa dele. O funcionário, pode receber uma proposta de outra empresa e pular fora, como vive acontecendo.
“O capitalismo não é o reino do mercado e da liberdade. O capitalismo é o império do capital. E nós somos súditos do imperador. O que caracteriza o capitalismo e o distingue é a separação radical entre o trabalho e a propriedade. Uns têm, enquanto outros trabalham e obedecem. E estes são escravos daqueles.”
Você está desatualizado. No momento atual do capitalismo, quase nenhuma grande empresa do mundo consegue sobreviver se não tiver investimento constante em pesquisa e desenvolvimento, em redução de custos, e isso as obriga a abrir seus capitais nos mercados de capitais, onde todos podem investir e se tornarem donos de capital.
“Pareço-lhe radical? Pense no pavor do assalariado toda vez que tem o desejo de fazer algo contra a vontade do patrão.”
O assalariado tem toda a liberdade de fazer o que bem entende, sobretudo contra a vontade do patrão, se assim o desejar. Ocorre que essa liberdade do assalariado é limitada pela liberdade do patrão. Ou seja, o patrão tem a liberdade de não deixar que o assalariado faça algo contra a vontade do patrão, desde que para fazer isso o assalariado use os recursos do patrão, percebeu? Se ele não for usar recursos do patrão, ele pode fazer o que bem entende.
“Especialmente se esse trabalhador é do ramo das idéias, do trabalho espiritual. Acho que você me entende, não é? Então relaxe. E perceba que a tese do socialismo, mesmo abstrata, atrai intelectualmente porque faz o sujeito se sentir capaz de romper os grilhões, de deixar a escravidão para trás. Se o capitalismo não resolve o problema da distância entre o trabalho e a propriedade, que venha o socialismo!”
E desde quando o socialismo resolve esse problema? Vamos ver nos países socialistas do mundo se os trabalhadores podem fazer coisas em seus trabalhos contra a vontade do Estado. Não podem nem falar mal do Estado, quanto mais fazer algo contra a vontade do Estado.
“Você já se deu conta de que a organização mais radicalmente anticapitalista da sociedade brasileira, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), é um movimento que pede apenas a democratização do capital terra? Incrível, não é? Eu, por exemplo, fico espantado toda vez que alguém acusa o MST de ser contra a propriedade privada. Eles são tão a favor da propriedade privada que a querem para todo mundo.”
Que ótimo que eles a querem para todo mundo, entretanto, a liberdade deles a quererem para todo mundo esbarra em algumas liberdades alheias, a saber:
- A liberdade dos atuais donos das terras de quererem ou não vende-las;
- A liberdade de toda a sociedade de avaliar se a sociedade inteira será beneficiada ao se usar recursos públicos para comprar propriedades rurais e repassa-las aos trabalhadores do MST. A sociedade irá ganhar com isso? A saber: os preços e a qualidade dos alimentos serão diminuídos? Os recursos alocados no setor agrícola serão menores? A produção total de alimentos crescerá?
“Mas, veja você, o Chávez acabou de dizer que não vai renovar a concessão de uma rede de televisão. Só porque eles participaram da tentativa de derrubá-lo no golpe de estado de 2002.
Sim, é verdade. Mas se o governo dá a concessão, talvez ele também possa ter o direito de tirá-la. Desde que dentro da lei. Ou será que concessão de tevê deve ser vitalícia, um direito adquirido? Você acha o quê? Eu acho que pau que dá em Chico deve dar em Francisco.”
Aqui você confunde governo com Estado. A operação de uma emissora de TV depende de concessão pública porque a transmissão das imagens e dos sons se dá por meio do espectro eletromagnético, que é um bem público.
Então, o Estado, ao alocar uma faixa no espectro para uma empresa normalmente faz por meio de concorrência pública. E a empresa que detém a concessão precisa de previsibilidade de que poderá manter seu negócio no longo prazo para planejar seu investimento.
Enfim, as regras para cancelamento de uma concessão devem estar previamente estabelecidas e a isso se chama Estado de Direito. Nesse sentido o que está ocorrendo na Venezuela é anti-democrático pois: 1. Chavez não é o Estado. Ele é o chefe do Poder Executivo, que, no caso do Estado de Direito, deveria estar abaixo da Lei. Ocorre que como a Venezuela é uma ditadura, então Chavez se apoderou do Estado para si, e, então, faz dele o que bem entende.
”uma democracia em que toma corpo a idéia de que alguns candidatos à eleição podem competir, mas, uma vez eleitos, talvez não possam assumir - essa democracia merece ser colocada à prova, sim. Essa idéia estava presente em 2001. “
Eu não vejo onde esta idéia estava presente em 2001, ou em 2002. O que existia era um receio que o PT e o Lula se levassem a sério e colocassem em prática todas aquelas bobagens que eles viviam falando. Nunca em nenhum momento se questionou se o Lula ganhasse ou não, ele assumiria. Isso nunca foi colocado em dúvida, o que se questionava era o tamanho da besteira que ele poderia fazer, prejudicando todo mundo.
Felizmente, eles não fizeram nada, então nós não avançamos em nada, mas tb não retrocedemos. Ter o Lula no Poder é um luxo! Ele não faz nada, não mexe em nada. Ele só está lá para provar para o Brasil que um operário pode chegar ao poder. Chegar pode, só não pode fazer o que lhe dá na telha. E isso também é democracia.
"Mas, veja você, o Chávez acabou de dizer que não vai renovar a concessão de uma rede de televisão. Só porque eles participaram da tentativa de derrubá-lo no golpe de estado de 2002.
Sim, é verdade. Mas se o governo dá a concessão, talvez ele também possa ter o direito de tirá-la. Desde que dentro da lei. Ou será que concessão de tevê deve ser vitalícia, um direito adquirido? Você acha o quê? Eu acho que pau que dá em Chico deve dar em Francisco.”
Aqui você confunde governo com Estado. A operação de uma emissora de TV depende de concessão pública porque a transmissão das imagens e dos sons se dá por meio do espectro eletromagnético, que é um bem público. Então, o Estado, ao alocar uma faixa no espectro para uma empresa normalmente faz por meio de concorrência pública. E a empresa que detém a concessão precisa de previsibilidade de que poderá manter seu negócio no longo prazo para planejar seu investimento.
Enfim, as regras para cancelamento de uma concessão devem estar previamente estabelecidas e a isso se chama Estado de Direito. Nesse sentido o que está ocorrendo na Venezuela é anti-democrático pois: 1. Chavez não é o Estado. Ele é o chefe do Poder Executivo, que, no caso do Estado de Direito, deveria estar abaixo da Lei. Ocorre que como a Venezuela é uma ditadura, então Chavez se apoderou do Estado para si, e, então, faz dele o que bem entende.
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