O país que inventou o termo "guerra cambial" acaba de acrescentar mais uma novidade ao seu arsenal retórico. O Brasil quer que a Organização Mundial do Comércio permita o uso de medidas anti-dumping contra países que promovem desvalorizações competitivas de suas moedas através de políticas de expansão monetária. A proposta não tem a menor chance de ser aprovada, mas é um sinal preocupante do tipo de protecionismo que o mundo até agora evitou em quatro anos de crise financeira e recessão.
Apesar da recente desvalorização do Real, o Brasil está preocupado que o Real pode voltar a se apreciar ainda mais se os EUA eo Reino Unido embarcarem em mais flexibilização quantitativa (QE). Brasília, assim, se vê como vítima inocente de uma guerra cambial entre potências, ainda que a apreciação do Real seja, em grande parte, culpa do próprio governo brasileiro.
No ano passado, o governo gastou torrou livremente antes das eleições presidenciais. O BNDES, um banco de desenvolvimento estatal, despejou crédito brarato no mercado. Quando a economia superaqueceu, o Banco Central foi obrigado a subir as taxas de juros, o que atraiu enormes fluxos de capital, que por sua vez, empurrou o real para a valorização. O Brasil tiro no próprio pé, mas culpou outros por lesão.
Pior ainda, por razões políticas, tem frequentemente acusado no país errado: os EUA, ainda que sejam os baratos produtos chineses, e não os americanos, que são os responsáveis pelo esvaziamento da base industrial do Brasil. Na verdade, o Brasil tem muito a ganhar com a política monetária do FED. A forte economia dos EUA poderia estimular a demanda chinesa por importações de manufaturados, o que por sua vez, apoiariam as exportações de commodities do Brasil para a China. Os EUA também é um grande mercado para os produtos brasileiros.
Os diplomatas brasileiros sabem que sua manobra na OMC não vai dar em nada. Estabelecer o que significa uma moeda subvalorizada ou manipulada é algo bastante difícil. O Brasil sugeriu que o Fundo Monetário Internacional como árbitro, mas o FMI nunca se envolveria nesse tipo de disputa. Reescrever as leis da OMC que determinam que os subsídios não são permitidos também exigiria que todos os membros concordassem - uma impossibilidade.
Entretanto, as ações brasileiras na OMC fazem parte de uma artimanha elaborada: a inevitável rejeição da proposta pela OMC pode levar à decepção fingida, que justificaria o protecionismo unilateral seguido de uma guerra comercial. Como um prenúncio de escaramuças futuras, o Brasil subiu recentemente as tarifas sobre carros importados. O Brasil gosta de jogar como pacificador quando ele não está agindo da vítima. Desta vez, ele precisa dar um passo atrás e pensar de novo.
Fonte: Financial Times
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