Ao longo dos últimos três anos, o preço dos imóveis nas capitais brasileiras tem aumentado de forma brutal. Alguns aumentos chegaram a atingir valorizações de mais de 100% nesse período, com bairros ultrapassando preços médios de 15 mil reais o m2. Quais as razões que motivam esses aumentos? Será que existe um vínculo entre o problema de transporte e a valorização dos imóveis? E o que acontece com os mercados considerados de “alto luxo”, mais conhecidos como bairros nobres?
É claro que o aumento no preço dos imóveis decorre primordialmente de outros fatores, sobretudo aqueles relacionados ao aumento no nível de renda da população e no acesso a crédito, este talvez o principal motor do mercado de habitação. O Brasil tem uma fortíssima demanda por habitação, ainda com inúmeras favelas. Então, ao lado das taxas de juros, os programas governamentais de habitação acabam, por via reflexa, também influenciando os preços dos imóveis em geral, alterando a relação custo e benefício do aluguel vs. compra.
Mas essa equação também sofre alteração por conta do trânsito. E não apenas no Rio de Janeiro ou em São Paulo, exemplos mais óbvios de cidades com problema no trânsito. A dificuldade no deslocamento pode incentivar valorização em determinados bairros. Ou mesmo relativa desvalorização de áreas mais distantes (na verdade, não fosse o trânsito, nem tão distantes assim). Algumas ruas (e mesmo bairros) já se desvalorizaram porque não comportam o grande fluxo de veículos que lá trafegam ao longo do dia.
O custo do deslocamento não envolve apenas o preço da passagem (quando o veículo é público) ou da gasolina (quando o veículo é privado), mas também o respectivo tempo de trânsito. Embora algumas soluções, como o bilhete único, possam enfrentar os custos da passagem, reduzindo em alguma medida o estímulo à favelização, o tempo de deslocamento somente pode ser resolvido com a melhoria nas condições de trânsito. E isso é bem mais complicado porque envolve uma efetiva melhora no transporte público ao lado de medidas de desestímulo ao uso de veículos privados, sem o que os congestionamentos permanecem.
Alguns movimentos migratórios dentro das cidades, seguidos de respectivas valorizações (para o bairro migrado) e desvalorizações (para o bairro migrante) já são vistos com frequência. O conceito de qualidade de vida está cada vez mais relacionado à distância do trajeto casa-trabalho. E o mercado de imóveis também precifica isso. Essa precificação, na verdade, é uma conformação por parte dos cidadãos com os congestionamentos, que, na verdade, são graves limitações à liberdade de ir e vir.
Não é a primeira vez que isso ocorre. Lembro-me de uma música do Rappa, que tinha o seguinte trecho “As grades do condomínio são prá trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você que tá nessa prisão”. As pessoas reagiram à falta de segurança e se instalaram (ou se aprisionaram) em condomínios. Agora, mesmo que retirem as grades, continuam presas… no trânsito.
Fonte: EXAME
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