Desde que o Brasil entrou em colapso, ouvimos falar dos erros dos brasileiros. As acusações correspondem em parte à realidade, algumas são falsas – mas não vêm ao caso. De fato, são enormes as falhas na economia, na política e na sociedade do Brasil. Mas essas falhas não são o resultado da crise que dilacera o país, e ameaça se espalhar pela América Latina.
As origens desse desastre estão bem no centro do país, em Brasília, onde as autoridades petralhas criaram uma política econômica profundamente – e talvez fatalmente – falha, e depois agravaram os problemas desse sistema substituindo a análise pelo moralismo. E a solução da crise, se é que será possível, terá de ser encontrada por essas autoridades.
A corrupção no Brasil, de fato, é grande, assim como a sonegação de impostos, e o governo brasileiro tem o hábito de viver além dos próprios recursos. Sem falar que a produtividade brasileira é baixa pelos padrões mundiais.
Por outro lado, muito do que se ouve a respeito da Brasil não corresponde à verdade. Os brasileiros não são preguiçosos – ao contrário, sua jornada de trabalho é mais longa do que a dos norte-americanos e europeus, particularmente. Nem o Brasil tem um estado do bem-estar social que não consegue controlar, como os conservadores gostam de dizer. Os gastos na área social do Brasil, enquanto porcentagem do PIB é bem inferior aos dos EUA, México e Argentina. Portanto, como foi que o Brasil chegou a esse ponto? A culpa é da incompetência do governo brasileiro.
Em 2003 o Brasil não era nenhum paraíso, entretanto não estava em crise. O desemprego era elevado, mas não catastrófico, e a nação mais ou menos se mantinha à tona nos mercados mundiais, ganhando o suficiente com as exportações, o turismo, o transporte marítimo, e conseguia pagar mais ou menos as suas importações.
Então a China aderiu à OMC e as commodities minerais e agrícolas brasileiras dispararam de preço no mercado internacional, e isso levou a algo terrível: passou-se a acreditar que era um lugar seguro para investir. O dinheiro de fora começou a inundar o Brasil, financiando em parte, mas não totalmente, os déficits do governo; a economia cresceu; a inflação subiu; e o Brasil se tornou cada vez menos competitivo.
Na verdade, os brasileiros, estimulados pelo governo, dilapidaram grande parte, quando não a maior parte do dinheiro que entrava incessantemente.
Bolha
A bolha estourou quando as falhas fundamentais de todo o sistema econômico tinham se tornado plenamente evidentes.
Portanto, embora o Brasil não deixe de ter seus pecados, enfrenta graves problemas por causa da arrogância e da incompetência dos políticos que estão no poder desde 2003, que estavam convencidos de que poderiam fazer funcionar uma economia com base em estímulos consecutivos de consumo.
E essas mesmas autoridades tornaram a situação ainda mais grave ao insistir, apesar das evidências, que todos os problemas do Brasil eram causados pelo comportamento irresponsável dos outros países, como EUA, e Europa, e que tudo se resolveria se as pessoas estivessem dispostas a gastar um pouco mais.
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O texto acima é uma ficção, baseado no artigo "A Grécia é uma vítima", do Paul Krugman. Mas poderá se tornar atual em um futuro próximo, caso o governo brasileiro insista em sua política econômica baseada em estímulos ao consumo, sem que ocorra investimento em infra-estrutura, educação e saúde.
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