segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Bolhas e bolas murchas - está difícil de ver bolha imobiliária no Brasil

FMI volta a falar em 'bolha imobiliária' no Brasil, mas o perigo está em bolas cheias demais em outros setores.

Os preços de imóveis estão horríveis no Brasil, a gente sabe. Desde 2008, outro ano que não termina, as casas ficaram em média uns 150% mais caras em São Paulo e ainda mais extravagantes 180% no Rio.


Na semana passada, o FMI voltou a falar em bolha imobiliária no Brasil. Há várias bolas murchas ou furadas, mas bolha imobiliária está difícil de ver. Por ora, ao menos.

Como o FMI errou barbaramente no caso da bolha americana (estava "tudo bem", diziam em 2007), talvez fosse o caso de a gente ficar tranquilo com o alerta do Fundo, digamos, para não perder a piada.

Há bolha imobiliária no Brasil? O assunto mal cabe em teses universitárias, que dirá em colunas de jornal. Mas a horrível inflação imobiliária brasileira não parece bolha.

Não há variedade de instrumentos financeiros sofisticados nem dinheiro bastante para alavancar uma bolha. O crédito parece ser concedido de maneira razoável - a inadimplência imobiliária é mais ou menos um quarto da inadimplência geral.

As estatísticas imobiliárias são fracas e escassas, certo. Mas haveria bolha num país com ainda tamanho deficit habitacional? Onde estão as massas de imóveis construídos e vendidos para especular, com dinheiro emprestado, por exemplo?

O crescimento rápido do crédito imobiliário não se deveu a melhorias na regulação e à baixa razoável da taxa de juros, associadas a um periodozinho de crescimento econômico bom? E os preços sobem agora mais devagar.

Ainda assim, o crédito imobiliário como proporção do PIB é baixo, menor que em muito país "hermano", mesmo tendo saltado de 3,7% do PIB, em 2010, para 5,8% do PIB, agora.

Sim, a calmaria pode ser ilusão. O desemprego está baixo, assim como os juros. Quando subirem, quando a maré baixar, vamos ver quem nadava pelado. A inadimplência subirá, bancos vão perder dinheiro, o crédito vai piorar? Difícil saber, os dados de agora não permitem prever tamanho rolo. Como se diz em filme de tribunal americano: "Especulativo, protesto".

Decerto a situação brasileira tem muita bola cheia que pode murchar de modo perigoso. Mudando um pouco de assunto, mas não muito, não sabemos se é "sustentável", duradoura, a situação do emprego e dos juros. Seriam bolas cheias demais, a ponto de estourar?

O juro caiu no Brasil, entre outros motivos, por causa da lerdeza mundial, dos juros baixos (zero) no centro do mundo. Um dia, eles subirão. Daqui a três anos, talvez, um pouco mais. Isso vai nos afetar.

O desemprego está muito baixo no Brasil. Bola cheia demais? Se o país voltar a crescer, vamos importar trabalhadores da vizinhança e da Europa desempregada? Daqui, não tem muito de onde tirar. Os custos (preços) vão subir ainda mais?

Mesmo com desemprego baixo, a inadimplência não cai.

O governo está reduzindo impostos e, ao mesmo tempo, reduzindo sua dívida porque a despesa com juros caiu. Logo, "economiza" menos.

Com Copa e eleição pela frente pode economizar ainda menos, mas gastando o dinheiro, em vez de reduzir imposto e dívida? Isto é, o governo vai gastar em consumo o dinheiro da bonança dos juros baixos (e vai continuar a estimular o consumo das famílias), em vez de dar uma força para o investimento?

Fonte: Folha de São Paulo

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